Perfect School

Todos os outros tinham sido ensinados por homens enérgicos, pessoas duras, resistentes, irrepreensíveis, pessoas que mantinham os rapazes quietos, distribuíam pancada com determinação, não sorriam, impunham a ordem, procurando fazer de cada criança um obediente, para que se obtivesse um bom trabalhador. A própria escola tinha quatro janelas que davam para a rua. A cada uma delas era raro não haver uma criança com uma máscara de asno, com orelhas de ourelo e uma fila de dentes exposta. Mas através do focinho amplamente rasgado da máscara identificava-se o rosto de cada criança. A escola inteira ficava a saber quais as crianças punidas. As máscaras deixavam de ser máscaras, passavam a ser elas mesmas. A vergonha das crianças. E a vergonha, na criação da obediência, é um sentimento imprescindível em todos os tempos…

 

 

“… recentemente encontrei uma cópia de um livro que foi considerado escandaloso nos anos setenta do século XX: O Pequeno Livro Vermelho do Estudante de Soren Hansen e Jesper Jensen, edição portuguesa da Editora Afrodite de 1977, da responsabilidade de Fernando Ribeiro de Mello. A edição original dinamarquesa é de 1969 e é uma espécie de livro prático sobre sexo, drogas e relacionamento com a escola e a sociedade. Ainda não havia sida na altura, mas em boa parte os conselhos são sensatos, práticos e desassombrados, não se perdendo tempo com moralismos. E diz não ao tabaco, às drogas, ao álcool e ao sexo inconsequente. Aliás, analisa muito bem as várias situações de sexo que podem ocorrer entre adolescentes, clarificando as escolhas possíveis. Também indica como contestar de forma construtiva a escola se for necessário e, em todo o caso, como a suportar com paciência e aproveitar o que for possível. Este livro causou imenso escândalo em vários países. Os editores inglês, francês e italiano foram multados e os livros apreendidos. O editor inglês chegou a recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, cuja decisão de 1976 não lhe foi favorável. Hoje em dia talvez ficasse soterrado por edições luxuosas do Código da Vinci, ou talvez não. Por que embora mais de metade do livro fale de sexo, e refira obscenidades e termos obscenos o seu assunto principal não é esse. O seu assunto é a preparação dos jovens para serem adultos e a forma de aprenderem coisas realmente úteis na escola, algumas das quais normalmente não se ensinam: ter a coragem de pensar realmente por si próprio e ser realmente livre e responsável numa sociedade democrática. E isso talvez continue a ser escandaloso.”

 

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