Maria vai à Fonte

«Há uma conspiração permanente contra as instituições actuais, contra a ordem estabelecida, e mãos ocultas que manejam estas conspirações,… a revolução do Minho é uma revolução diferente de todas as outras, que até hoje têm aparecido, porque todas as outras revoluções têm tido por bandeira um princípio político, mais ou menos, mas esta revolução é feita por homens de saco ao ombro, e de foice roçadora na mão, para destruir fazendas, assassinar, incendiar a propriedade, roubar os habitantes das terras que percorrem, e lançar fogo aos cartórios, reduzindo a cinzas os arquivos!. Que é levada a cabo sem chefe pela mais ínfima classe da sociedade, havendo um bando de duas mil e quatrocentas, a três mil pessoas armadas, com foices roçadoras, alavancas, chuços, espingardas, com tudo quanto eles podem apanhar, impondo-se tomar medidas enérgicas e fortes, a fim de a espada da lei cair sobre as suas cabeças»

Maria vai à fonte cruzando os telhados
de cacimba sem vacilar
ao encontro do último restício de um passado
que tarda em trespassar

Zé estou aqui para dizer que vou embora
– Maria, que fazes tu?!
Meu irmão não posso mais um dia suportar
esta vertigem sem abismo!!

Maria foi à fonte p´la última vez
não faz mal… pôde compreender
a feia chantagem própria de predadores preguiçosos,
não só dessa água podia beber..

A pele encardia nos sulcos e regalava
– Maria, volta p´ra trás!!
Do nevoeiro saíram estranhos pássaros,
fateixas de assalto.

Não basta roubar navios
ou pedir ao mar que nos ajude
a quebrar os fios
da Rede da Mão Rude.

É preciso semear o recomeço límpido
por dentro da cidade dos lobos,
tornar o sol mais íntimo
do tamanho de frutos para todos.

E sobretudo,
com armas de suor por incenso,
aprender a ressuscitar
o cadáver do silêncio.
(José Gomes Ferreira)

Leave a comment